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2009-11-isafsailoroftheyearTorben Grael nasceu em São Paulo e cresceu em Niterói. E em Brasília decidiu seguir a saga da família materna: a carreira de velejador. Seu avô Preben Schmidt, de origem dinamarquesa, foi um dos pioneiros da vela no Brasil e o primeiro a despertar o gosto de Torben pelo esporte. Hoje, com 49 anos, o esportista coleciona títulos em diversas classes e é o velejador com maior número de medalhas olímpicas no mundo – levou ouro em Atenas (2004) e Atlanta (1996), prata em Los Angeles (1984) e bronze em Sidney (2000) e Seul (1988).

Torben Grael conquista troféu de melhor iatista do ano Brilhando nos três principais tipos de competição à vela – a olímpica, a oceânica e o match race -, venceu a regata Volta ao Mundo deste ano, como capitão do barco Ericsson 4. A vitória ainda lhe rendeu um dos mais prestigiados prêmios do esporte: o de Velejador do Ano, entregue pela Federação Internacional de Vela (ISAF) e pela fabricante suíça de relógios Rolex, na terça-feira. Agora, Torben se prepara para o Mundial da classe star, no início de 2010, no Rio de Janeiro.

2009-11-isafsailoroftheyear-1Quando nasceu sua paixão pelo esporte?
Velejava muito com o meu avô. Foi ele quem me deu meu primeiro barco, o Hugin, quando tinha sete anos. Esse barco, com o qual ele também velejava, ainda é da família. E sempre que andamos nele temos boas recordações. Ali foi o princípio de tudo. Mas a vontade de competir mesmo surgiu mais tarde, aos 15 anos, quando fui morar em Brasília e comecei a treinar junto com meu irmão mais velho, Axel Grael.

E decidiu que seguiria carreira na vela?
Na época, não existia carreira de velejador. Competíamos muito, mas em regatas regionais, e eventualmente em campeonatos brasileiros, uma vez por ano. Aos poucos, ganhamos a indicação para representar o Brasil em campeonatos mundiais e começamos a ter bons resultados. Mas o patrocínio só chegou ao esporte mais tarde. Nessa primeira fase, o dinheiro vinha da família e de outros pequenos apoios. A nossa primeira campanha olímpica, por exemplo, foi na maior parte bancada pelo pai de um dos nossos tripulantes.

Quando a vela ganhou importância no Brasil?
A vela brasileira sempre teve bons resultados internacionais. Meus tios foram tricampeões mundiais na década de 1960 e têm várias medalhas pan-americanas. A primeira medalha olímpica foi a de bronze em 1976 (com Reinaldo Conrad e Peter Eicker, em Montreal); depois vieram duas de ouro em Moscou (com Marcos Soares e Eduardo Penido, 1980). Acho que naquele momento a vela começou a ter um pouco mais de atenção, e desde então temos medalhas em todas as olimpíadas, com exceção da de Barcelona (1992).

Houve pressão para que o senhor e seus irmãos seguissem o caminho dos familiares campeões mundiais?
Não, pelo contrário. A vela é um esporte em que o conhecimento técnico é muito importante. Ter o apoio dos tios e do meu avô ajudou muito. Sempre velejamos de tripulante e com isso aprendi muito.

O acidente do seu irmão Lars teve impacto na sua carreira?
Na carreira, particularmente, não. O acidente ocorreu por negligência, que interrompeu a carreira olímpica do Lars. Isso abalou muito a família, foi uma fase dura. Mas todos deram apoio para que ele continuasse velejando. Hoje, veleja competitivamente.

Com qual modalidade da vela mais se identifica?
Na minha iniciação, como ainda viajava pouco, eu tentava correr regatas em várias classes, mesmo como tripulante. E isso me trouxe uma bagagem grande, que facilitou na adaptação de um tipo de competição para outra.

Como o senhor se prepara para as competições?
Depende. Para a regata de volta ao mundo, ficamos um ano nas Ilhas Canárias de Lanzarote (na Espanha), onde as condições climáticas são boas. Treinávamos praticamente todos os dias, alternando velejadas diurnas e noturnas. Para a Copa América, treinamos com os dois barcos da equipe, um contra o outro. Para a regata olímpica, além da preparação física comum a todas, também fazíamos muitas competições. A volta ao mundo parece ser a mais emocionante… Chegamos a ficar 40 dias em alto mar. Temos de estar preparados para enfrentar qualquer condição. A preparação, o treino físico e o psicológico são muito difíceis. É nesse tipo de regata que ocorrem os momentos de mais adrenalina, mas também os piores.

2009-11-isafsailoroftheyear-3Como são esses momentos?
Por exemplo, batemos um recorde velejando mais de mil quilômetros em 24 horas. E continuamos neste ritmo por mais dois dias. É muito difícil manter o barco em alta velocidade e em mar aberto, sempre há riscos. Muitos barcos quebram e houve até perda de vida em uma regata neste ano. Não faltam momentos tensos. Isso sem falar no resultado da competição, em que os tempos dos barcos são muito próximos uns dos outros. Por qualquer erro se paga caro.

O senhor foi indicado quatro vezes ao prêmio de melhor do mundo. Seu talento demorou a ser reconhecido?
Acho natural, porque a federação premia o melhor do ano, a escolha não é feita pelo que se fez na carreira. Por isso, a tendência é premiar velejadores com resultados constantes, em um só tipo de competição. Como disputo em várias classes, é difícil manter média de bons resultados, falta tempo de preparação. Para a volta ao mundo, ficamos o ano todo focados nela. É uma competição com peso importante. Juntando o recorde e o resultado final da regata, nossa performance valeu o prêmio.

É difícil aprender a velejar?
Começar na vela é mais fácil do que parece. Com pouco tempo a pessoa já veleja e se torna autossuficiente. Mas competir exige muita dedicação. A grande vantagem é que se pode começar muito novo e não há limite de idade para manter a competitividade.

O senhor incentiva seus filhos a seguirem seus passos?
Sempre fiz questão de que curtissem o esporte, que tivessem prazer nisso. A vontade de competir partiu deles, eu só apoiei. Até demoraram um pouco para começar. Eles têm uma pressão extra por conta do sobrenome, mas acho que levam numa boa.

Velejador tem um bom salário?
A vela não é um esporte muito rentável, pois não existe premiação em dinheiro. Vivemos de patrocínio. A fase mais difícil é o começo, quando ainda não se é conhecido. Depois, é possível criar parcerias e renovar os patrocínios mais facilmente.

O senhor pensa em se aposentar?
Na vela é difícil parar de vez como ocorre com um jogador de futebol ou um tenista. Mudamos o foco das competições e procuramos o que dá mais prazer.

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